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Suscetibilidade

A autoimunidade das células B e T para o recetor da TSH surge como consequência de um conjunto de fatores genéticos, ambientais e endógenos e estes fatores determinam a suscetibilidade para a DG. (1)

Apesar de não ser conhecido nenhum gene específico responsável pela doença ou determinante na sua evolução, de um ponto de vista epidemiológico, a ocorrência familiar, a maior suscetibilidade feminina e a concordância de 20-40% entre gémeos homozigóticos superior à concordância entre gémeos heterozigóticos sustentam a suscetibilidade genética e a cronicidade da DG. A evidência da existência de fatores ambientais e endógenos desencadeadores da doença reside não só na concordância entre gémeos homozigóticos menor que 100%, mas também no facto de imigrantes de países com baixa incidência de DG se harmonizarem à taxa de incidência do novo país. (1)(2)

Mais de 2% da população feminina é afetada pela DG, com um ratio mulher/homem entre 5:1 e 10:1. (4) 

A genética é provavelmente o fator predisponente predominante, responsável por cerca de 80% da suscetibilidade. Vários estudos apontam a DG como uma doença geneticamente complexa baseada em múltiplos genes com efeitos individuais. (4) Parece haver um vínculo entre a DG e polimorfismos do gene CTLA-4, inibidor da ativação dos linfócitos T, que resulta na ativação excessiva dos linfócitos T e possível emergência de autoimunidade. Este vínculo verifica-se também com determinados alelos HLA no cromossoma 6. Em indivíduos de raça branca, os alelos HLA-DR3 e HLA-DQA1*0501 estão associados positivamente à DG, e o alelo HLA-DR5 negativamente. (1,2) Na população em geral, a frequência do HLA-DR3 é de 15-30%, em indivíduos com DG é de 40-55%, o que aumenta para 4 o risco relativo para pessoas com HLA-DR3. (2)

Quanto à suscetibilidade genética para o desenvolvimento de oftalmopatia não há evidências.

Os restantes 20% da suscetibilidade serão determinados pelos fatores endógenos e ambientais, como o stress, o tabagismo, o iodo e outros.

Situações de stress podem ser fatores predisponentes da DG, uma vez que estes doentes apresentam, geralmente, algum tipo de stress psicológico antes de desenvolver hipertiroidismo. (1) O cortisol inibe a proliferação linfocitária por ação direta nas células do sistema imunológico e pela inibição da produção da interleucina (IL-2) mediadora das reações imunológicas. (3) Assim, o stress parece estar associado a um estado de imunossupressão. A sua resolução passa por uma hiperatividade imunológica que pode desencadear a DG em indivíduos geneticamente suscetíveis. (1)

O tabagismo não só é uma fator de risco para a DG, como apresenta um risco ainda maior para a oftalmopatia. (1)

A carência de iodo pode desencadear a DG por possibilitar o efeito dos anti-rTSH na síntese de hormonas. De modo menos significativo a presença de compostos ricos em iodo pode ainda danificar as células da tiroide, levando à libertação de antigénios para o sistema imunológico. (1)

O hipertiroidismo está associado à infertilidade, pelo que a DG não é comum na gravidez. No entanto, como durante a gravidez as funções das células B e T estão deprimidas, ou seja, existe um estado de supressão imunológica, a doença melhora com a progressão da gravidez. O contrário também acontece pelo que com o término da gravidez e a recuperação da imunossupressão as mulheres suscetíveis podem desenvolver DG. (1) Até 30% das doentes de DG apresentam uma gravidez no ano que antecede o início da doença. Assim, a gravidez constitui um risco major de DG nas mulheres geneticamente suscetíveis.

No tratamento de outras doenças tiroideias, a injeção percutânea de etanol e a cirurgia da tiroide podem resultar num cenário de DG. (1)

Aos doentes de imunodeficiência adquirida foi associado o aparecimento de DG. O aumento do número ou a alteração da função das células T CD4+ pode estar relacionado com a terapêutica anti retrovírica a que são sujeitos estes pacientes. (1)

Referências:

 

(1) Neves, Celestino; Alves, Marta; Delgado, José Luís; Medina, José Luís. Doença de Graves (2008)

(2) Sgarbi, José Augusto; Maciel, Rui MB. Patogénese das Doebças Tiroidianas Autoimunes (2009)

(3) Rosa, Luiz Fernando PBC; Vaisberg, Mauro W. Influencias do Exercício na Resposta imune (2005)

(4) Cuige Liang, Wenhua Du, Qingyu Dong, Xiaomeng Liu, Wenxia Li, Yueli Wang, Guanqi Gao. Expression levels and genetic polymorphisms of interleukin-2 and interleukin-10 as biomarkers of Graves' disease (2014)

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